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Gabi curtindo o finzinho de tarde em PE. |
PORT ELIZABETH
“P.E.” para os íntimos, Port Elizabeth é uma cidade de contrastes.
Numa ponta, a pobreza cruel das metrópoles e o olhar hostil dos moradores (de
onde vem sua fama de violenta). Na outra ponta, surfistas nas praias charmosas
ladeadas por grandes deques para a caminhada vespertina de seus habitantes majoritariamente
cândidos.
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Praia de Summerstrand |
Feitas as devidas observações, seguimos para nosso albergue e fomos providenciar
compras básicas – independente do país a Gabi sempre acaba, invariavelmente, no
supermercado. Preparamos um belíssimo jantar que deixou os tradicionais
mochileiros mac’n’cheese morrendo de
inveja: salada de folhas com tomate e limão siciliano acompanhada de filé de
avestruz e cogumelos frescos.
Alguém está servido? |
Nota do casal: mochileiro que é mochileiro normalmente viaja duro e
a alimentação nunca é prioridade – o que acaba virando um festival de comida de
rua (normalmente frita, porque é mais seguro),
lanches secos (bolacha, porque é barato e fácil de levar) e macarrão (é fácil
de preparar e mata a fome). Mas, convenhamos, a maioria dos albergues conta com
uma estrutura mínima de cozinha onde é possível preparar uma refeição simples.
E a nossa experiência até agora diz que sim, vale a pena. Além de ser muito
mais barato, dá pra experimentar produtos locais, comer bem (o que é
fundamental pra quem vai passar muito tempo viajando) e se divertir com o
pessoal que está em volta.
No dia seguinte pegamos o ônibus da Greyhound para Kokstad as 6h da
manhã, rumando para a montanhosa região de Drakensberg. As chuvas intensas na
África do Sul interditaram algumas estradas o que fez com que chegássemos no
destino “final” as 21h30. Como se não bastasse, de lá subimos imediatamente num
taxi (sem velocímetro!) para pegar mais 2 horas de estrada até nosso albergue
no pé da montanha, o Sani Lodge.
Apesar de brincarmos mais de 4h com ela, não conseguimos entender seu nome. |
Uma surpresa muito gostosa nas mais de 15 horas de viagem entre PE e
Kokstad foi uma menininha xhosa que ficou nossa amiga no ônibus. Primeiro, um
pouco tímida, Ivan começou a brincar com ela na língua internacional dos
gestos e das palhaçadas – não tem como errar. Depois, quando ela descobriu que
nós falávamos inglês, desatou a falar algumas palavras que estava aprendendo na
escola e passamos em revista todas as frutas, animais, números, músicas
infantis e atividades do dia a dia até ela desabar no colo da Gabi, exausta, de
tanto falatório.
DRAKENSBERG
O nome deste parque nacional localizado na província de
Kwazulu-Natal faz jus à sua imponência: montanha (berg) do dragão (draken).
E, de fato, quando você está no pé desta cadeia de montanhas magníficas, até
parece que dali a pouco elas vão soltar um rugido e levantar vôo.
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Abrir a porta do quarto e deparar-se com essa vista foi difícil... Atrás dessas montanhas o pequeno país de Lesotho. |
Foi com essa sensação que acordamos no Sani Lodge, depois de ter
dormido nossa primeira noite em lençóis cheirosos e cobertores bem quentinhos –
que delícia! Partimos para fazer nossa primeira caminhada numa trilha de 12km
que sobe as montanhas e depois contorna o rio numa sequencia incrível de
planícies, platôs, cachoeiras e grandes formações rochosas.
No meio da trilha, nossa primeira surpresa: escutamos um barulho
bastante forte e depois vimos lá no fundo alguns animais se mexendo. Quando
chegamos mais perto, percebemos que tratava-se de uma família de babuínos – e,
aqui na África do Sul, eles são tidos como animais perigosos porque podem ser
bastante agressivos na interação com humanos quando em busca de alimento. O
fato foi que eles não estavam nem aí pra gente, justamente por serem selvagens
– o que foi ótimo para tirarmos fotos com calma, apesar da distância.
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Família de babuinos que não estavam nem aí pra gente. |
Depois, uma segunda surpresa que valeu o dia: quando estávamos
chegando em uma cachoeira vimos de longe e subindo o morro um serval, uma espécie de onça típica da
região. As fotos, apesar da distância, não deixam mentir o tamanho do bicho.
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Quem conseguir enxergar ganha um doce. E se estivesse lá, não seria comido! |
Chegamos esgotados da trilha e pontualmente as 18h fomos recebidos
com um jantar maravilhoso do Giants Cup Cafe: um prato daqueles de pedreiro de
arroz, frango, brócolis e abóbora com direito a sobremesa de bolo de chocolate.
Só de pensar já dá água na boca! Este café (que faz parte do albergue) é um dos
únicos restaurantes num raio de 10km e serve pratos absolutamente maravilhosos
além de contar com uma lojinha com produtos da região: leite fresco tirado no
dia, iogurtes e queijos caseiros, truta defumada, entre outros.
Recomendadíssimo!
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Macaco simpático. Nessa distância, claro. |
Nossa programação para o dia seguinte seria de conhecer o Sani Pass,
um dos pontos mais altos da África do Sul e também fronteira para Lesotho –
país este que, acreditem, exige visto de entrada somente para sul-americanos e
europeus do leste (o resto entra sem) que, por sua vez, só são emitidos em Cape
Town, Johannesburgo ou Durban. Vai entender o que os Basotho têm contra nós...
De toda forma, a chuva mais uma vez frustrou os nossos planos e resolvemos
seguir viagem. Aqui também é o ponto onde existe a maior concentração de
pinturas rupestres do país, vale a visita.
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No meio das montanhas. Excelente lugar para os amantes de caminhadas. |
Em Underberg – a cidade mais próxima ao Sani Pass – pegamos uma
lotação de 2 horas para a estação ferroviária de Pietermaritzburg. Chegando lá
compramos uma passagem de trem pela Shosholoza para Joburg e fomos nos
aventurar pelas linhas férreas sul africanas.
Gabi (novidadeira) experimentando os serviços do vagão restaurante. (foto celular) |
Foi nossa primeira vez andando de trem de verdade e já de cara
fizemos o pacote do mochileiro “compre uma passagem noturna e economize na
hospedagem e no transporte”. Ficamos em uma cabine individual com cama (bancos
que viram triliches) mas fizemos questão de conhecer outros vagões e a
experiência de andar dentro de um trem em movimento é exatamente daquelas de
filme de espionagem: corredores apertados e a meia luz com aquelas junções
barulhentas e instáveis. Incrível!