Catarata de nuvens e ventania.
Nossa viagem de volta ao mundo começou pela Cidade do Cabo, África
do Sul. A verdade é que depois de tanta correria para conseguir sair do Brasil
com tudo mais ou menos pronto, acabamos nos dando de presente uma boa estadia
(leia-se mais cara) para poder descansar um pouco e começar com o pé direito.
Ficamos em uma guest house
– o que chamamos de “pousada” no Brasil – de nome Port View, localizada próximo
a V&A Waterfront. São apenas 9 suítes bastante charmosas, com banheiro
espaçoso e varanda própria. O café da manhã é muito bem servido e além de
frutas, pães e iogurte você pode pedir ovos mexidos ou fritos com bacon e
salada.
Cape Town é uma cidade grande, muito bonita e frequentemente comparada ao Rio
de Janeiro. Nós dois gostamos muito, nos sentimos bastante a vontade para andar
de dia e a noite (com a devida atenção, sempre), as pessoas são simpáticas e o
clima é de descontração. Como toda metrópole, os preços acompanham as áreas mais
turísticas mas há muito que explorar desde a região do porto, as praias até os
bairros dominados pela cultura islâmica – tudo a pé.
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SA National Gallery |
Nós dois, que gostamos muito de conhecer lugares a pé, fizemos
praticamente todo o centro da cidade caminhando e vale muito a pena. Passamos pelo Company Gardens, que rende fotos
maravilhosas e conta muito da história da colonização holandesa, e aproveitamos
também para visitar a SA National
Gallery. Mais para cima conhecemos a região de Bo-Kaap e seu museu, casas
coloridas e cultura cape-malay
(mistura de origens muçulmanas e nativas).
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Casas coloridas em Bo-Kaap. |
A Table Mountain é uma das
principais atrações da cidade e não a toa. Ela é onipresente na cidade. A vista
lá de cima é absolutamente magnífica (a panorâmica abaixo diz tudo) e é onde
acontece um dos fenômenos mais bonitos da natureza: uma cascata de nuvens que
escorrem pelo topo da montanha até cobrir parte da cidade e do mar. É possível
subir de cable car (tipo um bondinho)
ou a pé, mas na segunda opção vale uma recomendação: monitorar o clima e o
tempo de trilha. Nós ficamos “presos” a voltar pelo bondinho porque na hora em
que decidimos descer já estava muito tarde, tinha muita névoa e, para ajudar, o
caminho é extremamente mal sinalizado. A melhor dica possível é ir bem
agasalhado. Faz muito frio lá em cima. Sério. O vento que sopra na cidade toda
deve vir de lá, porque não há como escapar. Venham preparados, mesmo com o sol
rachando lá embaixo.
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Panorâmica de um dos lados da Table... |
O passeio pelo Robben Island, apesar
de um pouco acima do budget, também vale muito a pena. O tour é bastante
organizado, conta com uma pontualidade britânica e tem guias muito bem
informados e simpáticos. A intensidade da ilha, pela sua história no apartheid e pela memória das lideranças
políticas é, no mínimo, impactante. As celas ficam ainda menores quando são
colocadas em perspectiva pelo tempo de carceragem, pela "cama" de cobertor no chão duro e pelas cartas escritas à mão para as famílias. E o vento implacável,
frio e constante, numa ilha quase que paradisíaca se não fosse pela sua função.
Enfim, tem que ir.
Fazer um passeio pela Chapman’s
Peak Drive é imperdível. As paisagens são absolutamente maravilhosas e de
tão lindas nos lembraram da Highway
Number 1 em São Francisco (EUA) – relembrem o post aqui. A rota tradicional
começa na praia de Camp’s Bay, passa por
esta serra linda beirando penhascos altíssimos, faz uma parada em Boulder’s Beach para ver os pinguins e
termina no Cabo da Boa Esperança. Sim, nós estivemos na esquina do oceano
Índico com o oceano Atlântico ficamos bem na pontinha, olhando um e outro –
quase que deu pra ver o Gigante Adamastor de Camões. Os lugares são sensacionais e
emocionantes, mas foi aí que caímos numa roubada: fizemos esta rota comprando
um tour com uma agência turística chamada Africa Eagle. Foi tudo errado, os
caras atrasaram uma hora pra pegar a gente na guest house, depois cobraram mais
caro, o guia dirigia que nem um doido, enfim, o maior rolo. A melhor coisa a
fazer é pegar os mini-taxis (a famosa
“lotação”) e ir negociando os valores e rotas de ponto a ponto.
Em Cape Town só tivemos dois “problemas”. O primeiro foi conseguir
atravessar a rua e entender o trânsito todo ao contrário, tendo em vista que a
mão é inglesa – acreditem, isso dá um nó enorme na cabeça. Alugar um carro, o
que é uma excelente opção para explorar os arredores (barata e flexível), ficou
fora de questão para nós dois, paulistanos certinhos e assustados com aquele trânsito todo na contra mão. O
segundo problema é o vento. Em Volver de Almodóvar, a personagem de Penélope Cruz
diz que nas cidades que ventam muito as pessoas ficam meio loucas – é verdade.
Nunca vimos ventos tão fortes e constantes como na Cidade do Cabo. É uma coisa
muito doida, uma ventania que te empurra pra todo lado e chega a dar uma leve
preguiça de sair de qualquer lugar abrigado entre quatro paredes.
Mas são estas coisas que dão o gostinho de aventura e que rendem
boas histórias numa roda de amigos. E este nosso sonho de volta ao mundo é,
dentre outras coisas, prolongar o momento de compartilhar experiências e dar
muita risada. Cape Town inaugurou esta nova fase com uma beleza única e crua –
nada mais justo para quem começa pelo continente africano. Que venha muito
mais!
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V&A Waterfront |
4 comentários:
Eu adorei o pinguim, obvio! E acho q ja ta bom de vcs voltarem. =p
ooooooo DELICIA!!!
um abraço seus loucos, seus desajustados, genios...
Gabi!!!!
It's me Diogny, I hope you remmember me, we met in Montreal. I have you as a friend on facebook, and I notice that you just got married (CONGRATULATIONS) and finally you posted this link to this blog.
OMG what an amazing thing to do, I feel so happy to find this, and to know how many happy memories you are collecting.
If you need something, ANYTHING for this travel let me know, or if you happen to come to Mexico, you both have a house and food, dont worry about that.
I hope you have such an amazing time, I will pass by this blog very ofter to see how you guy are doing.
I send you a big big hug and OMG!!!!
Que saudade!!!! Uma delícia ler os relatos de CApe Town e redondezas. Continuem a nos brindar com esses registros fotográficos e literários. Bjs.
Ps. Gabi impressionante com os clics!!! eu nunca consegui! Parabéns. Ri muito com os vídeos ... E o Elvis falando português mostra como o pessoal dali ( na verdade da África em geral) é super bom para línguas.
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