Pedais na contra-mão e
cerveja artesanal
Knysna (que pronuncia-se náisna)
é aquele tipo de cidade onde todo mundo se conhece e para o carro no meio da
rua pra conversar. E você, que não conhece ninguém, vai provavelmente ser
cumprimentado por todos que passarem por você com um sorriso ou um leve aceno
de cabeça.
Chegamos lá pela Intercape (uma das linhas de ônibus da África do
Sul) e a viagem foi um exemplo de profissionalismo. Os ônibus são bastante
confortáveis – brasileiros por sinal, feitos com aço CSN – rola patrocínio? ;) –
pontuais, cobram um preço justo e são seguros
a ponto de nos sentimos confiantes para deixar nossas mochilas (com a
vida!) no bagageiro. Já em nosso destino final, seguimos para o Knysna Backpackers
e fomos calorosamente recebidos pela dona, Muriel, e seu gerente, Yanga. As instalações são boas, os banheiros limpos e
espaçosos e a cozinha, bastante equipada – e a casa em si, estilo vitoriano, é
um charme a parte.
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Charmosa, não? |
Em Western Cape notamos uma primeira diferença desde que saímos de Cape Town: todos,
brancos e negros, falam afrikaan (tipo
um holandês-africanizado) no dia a dia. E o inglês, ainda que perfeitamente
pronunciado, fica restrito à língua burocrática e de comunicação com os
turistas.
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Pés juntos no topo do "the Heads" |
No dia seguinte, alugamos duas bicicletas e fomos pedalar pelas
principais atrações da cidade, uma rota que vai beirando o mar até um estreito
chamado The Heads. As paisagens são
muito bonitas, os mirantes pelo caminho rendem boas fotos e a subida dá
aquela sensação de “missão cumprida” ao alcançar o topo. Mas o legal mesmo foi pedalar na mão
inglesa, fazer uma rotatória pela contramão e atravessar a rua de bike sem ter
a menor ideia de onde raios estaria vindo um carro.
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Perdido? |
Para melhorar ainda mais nossa situação, paramos em uma cervejaria artesanal,
orgânica, sustentável e economicamente solidária – sim, a Gabi virou fã deles –
chamada Mitchell’s Brewery. Fizemos um tour pela fabriqueta que foi bem bacana
e bastante instrutivo para impressionar amigos cervejeiros num boteco, como por
exemplo: vcs sabiam que um dos ingredientes para fazer as cervejas ale é bolsa de esturjão (sim, aquele do
caviar) em pó? Depois do tour foi a parte mais interessante: degustação dos
7 tipos de cerveja e um pint daquela
que você escolher. Resumo da ópera: depois de cada um ter entornado quase 1 litro
de cerveja de estômago vazio, lembramos que estávamos de bike e tínhamos que
devolvê-las em 30 minutos – a Gabi voltou o caminho inteiro rindo, sem parar.
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Olha a cara de feliz! |
PLETTENBERG BAY
Elvis, baleias e clicking
Molo. Kundjani? Ndiphilile!*
A ida para Plett começou com uma boa dose de realidade. Os mini-taxis só saem quando lotam, ou
seja, você tem que chegar lá e ficar esperando até encher – nós esperamos 1
hora. No meio do auê na hora de sair, um cidadão se recusou terminantemente a
sentar do nosso lado, numa van que cabiam treze pessoas espremidas entre
sacolas, ferramentas e dois incômodos mochilões.
Chegando lá fomos dar uma olhada no Nothando Backpackers e mais uma
vez fomos surpreendidos pela alta qualidade dos hostels na África do Sul: cozinha
super estruturada, jardim, sala com direito a lareira e limpeza diária dos dormitórios
e banheiros conjuntos – um luxo só!
A cidade é típica de praia e, como tal, vive (e muda) conforme a
temporada – sorte a nossa que estivemos lá na baixa. Os guias de viagem falam
muito da beleza das praias mas para nós, brasileiros, achamos que elas são bem
parecidas com as nossas e portanto não causaram tanto impacto.
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Central Beach, Plett. |
À noite, já atentos com o budget
da viagem, preparamos nosso jantar e tivemos a incrível oportunidade de
conversar bastante com o Elvis, um dos encarregados do hostel.
Extremamente
simpático e atencioso, Mawethu (seu nome xhosa) nasceu em East London, uma grande
cidade sul-africana e nos falou uma das coisas mais significativas sobre as
mudanças no país pós apartheid: “Na Oxford Street, a principal avenida de
East London, todos os brancos falam xhosa puro”. Um sorriso no rosto de
quem sabe do tipo de inversão e mudança de paradigma que isto representa – ainda
bem.
E depois dessa, claro, fomos aprender algumas palavras de xhosa, já
que é o mínimo que podemos fazer no país que estamos visitando. E aí começa o
ala-la-ô: xhosa, na verdade, se pronuncia tsc-cossa, sendo que o “tsc” e o “c”
são falados ao mesmo tempo. Sério. Até aí tudo bem, a gente imita o Pato Donald
e vai arranhando, até que entram os clicks,
que são os estalidos que os xhosas fazem quando falam, porque são consoantes no
meio da frase – e, óbvio, tem click com a língua assim, com a língua assado,
mais fino, mais grave, mais estalado, e por aí vai. Pra entender melhor o
tamanho da bagunça, só vendo o vídeo abaixo mesmo.
No inverno, Plettenberg Bay é uma das principais rotas de migração
das baleias (franca e corcunda, principalmente) e avistar estes animais era um
dos nossos principais objetivos. Fomos com a Ocean Blue, uma das únicas
agências que tem licença para se
aproximar das baleias (pagando o preço disso). Ficamos absolutamente ensopados
(ainda que com roupa impermeável), batia bastante vento e o mar estava bem
mexido, Ivan passou mal de um lado e a Gabi de outro. Mas vimos as baleias.
Primeiro a uns 200 metros com demonstração de nadadeiras, caudas e elevações. E
depois, a uns 10 metros do barco, o dorso enorme de uma mãe, filhote e mais
alguns adultos. Foi uma experiência muito marcante (apesar de, pelos relatos, esperávamos
ver muito mais) e a Gabi só chorava na hora em que viu aqueles animais em mar
aberto assim, tão pertinho – e logo depois, voltou a passar mal. Sem fotos dessa vez, infelizmente. Era muita coisa pra pensar ao mesmo tempo...
*Olá. Tudo bem? Tudo ótimo! (Xhosa)
STORMS RIVER MOUTH
Delinquentes
juvenis e granizo
Infelizmente não tivemos sorte com uma das regiões mais bonitas do
Parque Nacional de Tsitsikama, a Storms River Mouth. No dia que iriamos fazer trekking na ponte pênsil e na cachoeira,
choveu sem parar um minuto sequer – e aí, ficamos ilhados no albergue. Mas
algumas coisinhas interessantes aconteceram no meio do caminho, claro.
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Só vimos chuva... |
Fomos de Plettemberg Bay para Storms River Village por uma linha de
ônibus local chamada City to City – funciona bem mas os assentos são muito
(muito!) apertados, não dá pra fazer uma viagem maior do que 2,5hs. A vila mais
próxima do parque nacional fica a 14km e tem pouco mais do que 2 mil habitantes
e umas 4 ruas – se não quiser gastar com restaurantes (todos caros), leve
provisões porque os dois espertões aqui tiveram que ficar dois dias a base de
pão, atum, maionese e Cheerios.
Nosso albergue – o Tube’Axe – era ok, não muito limpo nem organizado
mas até aí, tudo bem. O problema de verdade teve inicio quando chegou uma horda
de 40 estudantes norte-americanos semi-bêbados e simplesmente começaram a
barbarizar o local – literalmente. A meia noite, com um rap bombando, fomos
tentar dormir e quando entramos no dormitório ele estava alagado. Sim,
A-LA-GA-DO, porque o guia (!!) do grupo estava bêbado tomando um banho de 25
minutos que inundou tudo. As 2h da madrugada mais alguns dos deliquentes
entravam e saiam do quarto gritando, batendo a porta e deixando a luz acesa
(com um monte de gente dormindo) e, como se já não bastasse, as 4h um infeliz
bêbado resolveu ficar pelado e tentar entrar nas camas dos desavisados – a Gabi
já estava com um belo chute no saco engatilhado. No meio disso tudo, chão do
banheiro mijado, vômito, muito ronco e
as 6h da manhã alguém caiu do beliche e depois chutou o lixo espalhando tudo no
chão. Excelente.
Na manhã seguinte, depois de uma conversa super-sincera com o dono,
eles nos ofereceram uma suíte privativa, para recompensar. Enfim, o que é
importante aqui é lembrar que, quando se fica em um dormitório compartilhado em
albergue, existem algumas regras básicas e fundamentais de convivência que
devem ser obedecidas. Dentre elas: vc não está sozinho então respeite o espaço
dos outros, não perturbe, não acorde, não bagunce, não coma comida que não é
sua, se sujou limpe, e por aí vai.
Depois de um dia inteiro de chuva, mas pelo menos sem os vândalos
filhinhos de papai, nos demos de prêmio de consolação um belo jantar no
restaurante Rafters. Foi maravilhoso e condizente com a nossa primeira
experiência gastronômica sul-africana: Ivan pediu um prato com carne de
avestruz moída e temperada com tâmaras,
especiarias e nozes e eu um cozido de cordeiro – tudo muito bem temperado ao
estilo Cape-Malay. Foi muito bom, atendimento excelente, um pouco caro para
nossos padrões atuais, mas valeu! Ah, tudo acompanhado de vinho local, claro!
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Jardim do hostel. Quem mandar o nome da flor ganha um doce! |
No dia seguinte tivemos uma bela surpresa pra consagrar o tempo ruim:
chuva de granizo! E rumamos para Port Elizabeth frustrados por não poder ter
conhecido o parque – que, no final das contas, estava fechado justamente por
conta das chuvas. Fué-fué-fué... Ah, no fim ficamos sabendo que Tsitsikama, em Khoi, significa "lugar de agua permanente". Tá explicado!
8 comentários:
"a Gabi já estava com um belo chute no saco engatilhado"... eu vi a cena! hahaha
E viva a Ubatuba sul africana! =p
Que tal flor da alcachofra?
Adooooro ler cada capítulo e reler para fixar e começar a emendar as localizações visualmente.
Saudades sempre
Celina
Muitoooo bomm, mando bem no video e parabens pelo texto!
Ja coloquei o site nos favoritos.
Abs
Prof.Danilo
Bela foto a das garrafinhas...
Sutil, colorida e emblematica!
Bjs
Protea :) é a flor nacional da África do Sul.
Continuação de boa viagem e muitas aventuras.
Protea :) é a flor nacional da África do Sul.
Continuação de boa viagem e muitas aventuras.
Beijinhos
[merda] tô chorando assistindo aos videozinhos, meu.
ay vocês
[ todo amor,
e miriam makeba:
http://www.youtube.com/watch?v=Qg4Fp-A7IRw ]
"in my native village in Johannesburg
there is a song that we always sing
when a young girl gets married.
it's called 'the click song' by the English
because they can not say - Qongqothwane - "
¨Mon
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