Gonder foi nossa segunda parada no roteiro histórico da Etiópia.
Deixamos Bahir Dar pra traz a bordo de uma lotação, o já manjado meio de
transporte africano. Apesar de termos ido à rodoviária local no dia anterior, o
gerente do nosso hotel nos ofereceu o mesmo transporte por quase nada a mais, o
que nos levou a aceitar a proposta e evitar de andar meia cidade com as
mochilas nas costas. As vezes isso acaba compensando, seja pela comodidade,
seja pela segurança ou mesmo pela falta de paciência frente ao assédio que duas
mochilas enormes atraem de gente querendo vender favores e que tais.
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Bandeira etíope tremula no alto do castelo. |
Foi a melhor coisa que fizemos. Foi assim que, dentro do mesmo
esquema de lotação, acabamos conhecendo três amigos que nos acompanharam por um
bom tempo nessa etapa da Etiópia: Will (Jesus) e os irmãos Alex e Chris – três
queridos, vindos diretamente da terra do canguru. Ficamos todos no mesmo
albergue e sem perder tempo fomos conhecer a grande atração da cidade: o
complexo de ruínas medievais da antiga capital do império etíope – e que chegou
a ser chamada por alguns de “Camelot da África” – uma grande injustiça à
Gonder, pois Camelot, nunca existiu.
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Castelo de Fasilades, o imperador. |
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Lateral do castelo. |
De fato, a denominação faz jus ao que vimos. As ruínas de Gonder não
têm nada a perder para as europeias (fora a falta de sinalização, talvez). Os
inúmeros edifícios com diversas funções remontam a uma sociedade complexa, extremamente
rica, que dimensiona seu poder pela ostentação de construções impressionantes.
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Ruína do primeiro castelo. |
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Parte do complexo real. |
Com espaços suntuosos para residência, salão de banquete, banho turco,
biblioteca (sim!!!) e até jaulas para leões abissínios – que infelizmente foram
mantidos lá como atração absurdamente até 1992.
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Biblioteca à direita. |
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O senhor do castelo. |
É incrível imaginar a vida nesses castelos medievais no coração da
África. O rei Fasilades quando fundou a capital em 1635 dominava toda a região
do chifre africano, fazendo comércio com o mundo árabe e o restante do sudeste
do continente. A riqueza era tanta que atraiu povos de todos os lados.
Interessante também é que a cidade é o local de origem de judeus africanos, que
pouco a pouco estão sendo levados de volta à Israel.
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Interior do salão de festas. |
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Salão de festas |
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A princesa Gabi. |
Depois de tanta andança, aproveitamos uma das melhores tradições da
Etiópia: as casas de suco. Por aqui, é muito comum encontrar alguns mercadinhos
que só vendem frutas frescas e fazem sucos das frutas que você escolhe: banana,
abacaxi, goiaba, manga, etc. O mais tradicional é o de abacate que, para nossa
felicidade, é feito exatamente do jeitinho que comemos no Brasil: batido com
leite e adoçado com açúcar. Delicioso!
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Ivan na antiga adega. |
Mas, como nem tudo são flores (e algum de nós precisava entrar na
estatística depois de dois meses de viagem) a Gabi teve a sua primeira
intoxicação alimentar. Tudo bem que comer goulash de peixe no interior da
Etiópia não foi a melhor das ideias, mas não precisava ter castigado tanto.
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Lateral de um dos castelos. |
E não parou por ai. Enquanto a Gabi passava a noite no banheiro a
cama foi o cenário de terrível batalha campal contra as pulgas. Confesso que
perdi: cento e seis picadas contabilizadas. Esperar o que de uma pensão de oito
dólares por noite? Isso porque o preço é pra Faranjii (estrangeiro em amárico), imagina para os nativos....
Enfim, apesar dos ataques à saúde do casal, foi aqui que organizamos
a nossa expedição à uma das atrações mais bonitas do país: as montanhas Simien.
Essa cadeia de montanhas esta localizada entre as cidades de Gonder e Axum,
tendo como base a vila de Debark.
Para chegar lá ou encara-se tudo no peito contratando o pacote
composto por guia, scout (soldado armado, obrigatório), permissões, cozinheiro
e mulas, ou compra-se tudo organizado de um agente que faz isso por você. Após
pesquisarmos um pouco e vermos que nosso tempo não era muito farto, decidimos
pela segunda opção. Aqui o trekking é levado à sério, afinal, anda-se em média
20km por dia.
Mas isso é uma outra história, que fica exatamente para o próximo
post. Até lá!
Um comentário:
Gabi e Ivan.
A vó Amélia está encantada com a viagem de vocês e a maneira como vocês a descrevem.
Parabens, saudades e muitos beijos.
Amélia
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