Como dizem: “o resto é resto”. Depois da maravilhosa experiência com
os macacos gigantes, pensamos que nada mais nos surpreenderia. Afinal, só
embarcamos nessa “excursão para jovens” atravessando o leste africano para ver
os primatas. Porém, como parte da alegria de viajar, boas surpresas sempre acontecem.
A volta do lago Bunyonyi até Nairobi nos reservou bons momentos e lugares
sensacionais. Apesar do cansaço do grupo (boa parte estava no caminhão a dois
meses), tivemos excelentes dias na beira de lagos nos momentos finais dessa
jornada de um mês de caminhão. Vamos lá?
JINJA (Uganda)
Nosso tour de overlanding continuou
para a cidade de Jinja, onde fomos conhecer uma das nascentes do Nilo. Para
nós, que já estávamos um pouco cansados de tanta estrada, foi mais uma
oportunidade para relaxar um pouco sobre uma bela vista do rio e aproveitar a
boa estrutura do acampamento.
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Pôr do sol na fonte do Nilo. |
No bar, para alegria geral da nação, dispúnhamos de internet wifi (puro luxo!) e cerveja gelada.
Depois de atualizar o blog, dar sinal de vida e agilizar os próximos passos da
viagem, pudemos acompanhar os relatos do pessoal que fez bungee jump e rafting no
rio, duas das principais atividades do camping.
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Pescador no Nilo. |
LAGO NAKURO (Kenya)
No dia seguinte, após atravessarmos a fronteira de volta ao Kenya (com direito à foto na linha do Equador), rumamos para o Parque Nacional do Lago Nakuro, uma
pequena reserva que conta com a maioria dos animais de safari e ainda tem como
principal atração a variedade de pássaros que podem ser encontrados por lá.
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Pouco turista? |
O fato de não ter as proporções enormes dos outros parques poderia
ser pensado como um ponto negativo, mas na verdade é exatamente o oposto. O
Lago Nakuro tem um charme único, mais intimista, que faz lembrar um santuário
natural.
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Pelicanos no amanhecer. |
Além disso, há uma grata surpresa pela vegetação do lugar (mais rica e
diversa do que a tradicional savana) que emoldura uma floresta um pouco mais
densa, salpicada de árvores com um tronco bem amarelado – que, combinadas, dão
um colorido bastante especial ao contorno do lago.
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Entrada do parque. |
Mesmo estando dentro do enorme e desengonçado caminhão do overlanding pudemos ter visões lindíssimas
dos animais no parque. Começamos encontrando uma família enorme de babuínos,
entrecortada por alguns waterbucks e
gazelas.
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É o Bambi? |
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Manda de búfalos. |
Depois, nas margens do Nakuro, vimos milhares de pelicanos e fomos
surpreendidos pela presença de alguns flamingos que ainda não haviam migrado –
apesar de ser uma das principais atrações deste parque, na época em que fomos
estas aves já teriam migrado para regiões mais quentes.
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Muitos pelicanos e alguns flamingos. |
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Estrada que margeia o lago. |
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O que é um safari sem um leão? |
Passando pelas zebras, girafas e búfalos conseguimos finalmente ver
um dos animais que ainda não tínhamos conseguido encontrar de perto: uma
família de rinocerontes brancos – com direito a uma baby rhino bem brincalhão.
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Rinocerontes bem de pertinho. |
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Mais um rinoceronte. |
Depois de ter uma vista panorâmica do parque de um dos mirantes,
ainda conseguimos encontrar um leão no caminho, coisa rara para um parque com
território não tão extenso.
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Casal feliz que encontramos por lá... |
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Vista do mirante. |
LAGO NAIVASHA (Kenya)
Nossa viagem seguiu para o Lago Naivasha, uma região bastante
conhecida pelas plantações de rosas e pelas atrações turistas, dentre elas o
próprio lago – onde as famílias mais abastadas de Nairobi vão passar um final
de semana ensolarado e os turistas vão passear a cavalo e ver hipopótamos.
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Hell's Gate Park. |
Mas a nossa grande expectativa estava na visita ao Parque Nacional
de Hell’s Gate, por ser um parque razoavelmente novo (fundado na década de 90),
ter sido fundado por uma ativista ambiental inglesa (com uma história incrível
que envolveu ter uma leoa de estimação), ser o habitat natural de vários
animais selvagens, por ter uma paisagem bastante interessante com formações
rochosas muito bonitas e... porque foi um dos cenários que inspirou a Disney a
fazer o Rei Leão. (Não precisa dizer mais nada, né?). Ah, de quebra você pode
perambular a vontade pelo parque.
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Nosso guia, Stephanie, Dave e Gabi no safari-ciclismo. |
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Foi aqui que aqueles malditos gnus mataram o Mufasa. |
Depois de comemorarmos por poder dormir três noites no mesmo lugar
fomos para a tradicional rotina do mochileiro acampante: limpar barraca; lavar
e pendurar roupa; carregar eletrônicos; planejar os próximos passos da viagem;
descansar, eventualmente, com uma merecida cerveja com a turma no final do dia.
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O segundo Tomb Raider também foi filmado aqui. |
Em determinadas épocas do ano, não há predadores carnívoros no
Parque Nacional de Hell’s Gate (leões, hienas e/ou leopardos), o que permite
que você possa caminhar tranquilamente pelo parque. É importante lembrar que em
todos os outros safaris você fica o dia inteiro trancado dentro de um carro, sem
poder sair, dirigindo o dia todo para observar os animais.
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O casal tentando chegar perdo dos animais. |
É muito bacana, sem
dúvida, mas além de ficar restrito às estradas do parque, há de se considerar o
barulho (o tempo todo) do motor do jipe, as câmeras disputando espaço para tirar
uma foto de um leão, e a sensação de distância (que para alguns pode ser
interpretada como segurança) que o vidro da janela traz. De fato, a maioria dos
safaris permite observar – e tão somente – a vida selvagem que passa lá fora.
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Perseguindo girafas. |
Foi por isso que, na manhã seguinte, tivemos uma das experiências
mais bacanas da viagem no Parque de Hell’s Gate: alugamos bicicletas e fomos pedalar
um safari por uma manhã inteira, percorrendo em paz 30 km do parque. O fato de
podermos nos exercitar um pouco depois de tanto tempo de estrada, pedalando no
meio de zebras, javalis e gazelas, parando para tirar fotos e se aventurando a
pé pela savana a dentro, foi absolutamente maravilhoso.
Em pouco tempo de pedal
estávamos todos com um sorriso iluminado no rosto e apostando corrida um com os
outros numa excitação de criança que acabou de aprender a pedalar a bike que
ganhou no Natal – saudades do Zanelinha, que sempre volta radiante das suas pedaladas
nas margens do Paranoá.
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Você já pedalou com zebras? |
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Paisagens incríveis, tudo à sua disposição. |
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Hell's Gate Park. |
Recomendadíssimo para quem quer ter uma experiência de safari de uma
perspectiva completamente diferente – mais autônoma, mais tranquila, mais
pessoal.
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Animais na beira da estrada. |
NAIROBI (Kenya)
Foram-se vinte e quatro dias, sete dias por semana, totalizando mais
de trezentos e sessenta horas de convivência constante com um grupo bastante
diverso – e que já começava a dar saudade antecipada. Depois de tanto chão, de
muita conversa e baralho, de horas intermináveis de estrada e perrengues
hilários, antes que pudéssemos nos dar conta o nosso overlanding chegava ao fim.
Como cada um seguiria um rumo diferente, ainda no Lago Naivasha
fizemos a “cerimônia” do laços pelo mundo (mais detalhes aqui) que deixou muita
gente querida emocionada e com uma pontinha de saudade. Tivemos a sorte de ter
um grupo extremamente diverso, alegre e tranquilo que soube encarar as
diferenças com paciência e os perrengues com muito bom humor. Depois de quase
um mês de convivência intensa, podemos dizer com calor no coração que criamos
laços fortes na Austrália, Canadá, Inglaterra e tantos outros países – e os
nossos amigos sabem, com uma lembrança atada no pulso, que têm uma família no
Brasil.
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"Ritual" de secagem de utensílios de cozinha: todos os dias, 3 vezes ao dia... |
Já no Kenya, na base de chegada e partida dos overlandings da Africa Travel Co., alguns seguiram viagem, outros
foram namorar em Zanzibar, outros partiram para o Vietnã e teve gente que tinha
que voltar pra casa. A turma da bagunça, é claro, aproveitou ainda um restinho
de viagem em Nairobi para descansar – com a desculpa do término do tour e por uma
chuva torrencial que cobriu na cidade.
Durante três dias ficamos comendo batata-frita, revendo fotos e
assistindo NatGeo Wild sem parar – e pela primeira vez eu me senti em casa
quando não era a única a se emocionar com o nascimento de uma ninhada de tigres
ou a ficar vidrada num documentário sobre as estratégias de caça dos dragões de
Komodo.
Mas, mochileiro que é mochileiro depois de um dia e meio sem fazer
nada começa a ter coceira na bunda (não importa o quão exausto o esteja) e pra
quebrar um pouco a pasmaceira e comemorar aquele grupo de amigos tão legal,
resolvemos fazer um jantar para a galera.
Parênteses: os amigos de Brasília não terão dificuldade nenhuma em
diagnosticar corretamente este rompante gastronômico. Os frequentadores assíduos
da SQN 111 K 307 sabiam farejar de longe os jantares, os ensaios de gumbo, os risotos e carnes, as ocasiões
especiais de despedida de solteira, o bolo assando no forno (a pedidos!) no
final da tarde. E, óbvio, eu estava mo-rren-do de saudade disso tudo. Portanto,
vamos cozinhar no Quênia!
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Último dia de caminhão, felicidade é pouco! |
Depois de algumas cotações, dois supermercados bons e alguma discussão
com o gerente do camping, entramos em uma cozinha industrial para preparar o tão
esperado jantar de despedida. E exatamente uma hora depois – porque eu descobri
que não é só no Brasil que o povo começa a rodear a cozinha porque não aguenta
esperar ficar pronto – o jantar estava sendo servido a francesa. Salada de
espinafre com ervilhas frescas e feta; risoto de limão com parmeggiano; carne
ao molho romesco e cebola caramelizada; mousse de chocolate com crosta de
amêndoas para sobremesa.
E todo mundo comeu feliz, até cansar, matando aquela saudade
adiantada pela boca. Heath, Laura, Camille e Piano sabem que fizeram a nossa
viagem pela Tanzânia, Kenya e Uganda ainda mais especial – e que têm uma casa
no Brasil.
3 comentários:
Olá. Apesar de nunca ter comentado, quero dizer que estou sempre acompanhando o blog! Sei que deve ser difícil arrumar tempo de postar, mas por favor não parem! hehehe Eu planejo uma volta ao mundo quando eu acabar a faculdade (daqui a dois anos) e tenho uma dúvida sobre o overlanding que vocês estão fazendo pela África! Com qual empresa vocês fecharam? Como funciona? Eu quero cruzar a África até o Egito como vocês e espero fazer isso por terra o máximo possível! Espero resposta quando puderem, obrigado
Olá amigo,
Olha, é muito legal que vc esteja acompanhando nosso blog, ficamos muito felizes. Esse é um sonho antigo que começou como o seu, antes da faculdade e que só conseguiu se realizar alguns anos depois de formados, infelizmente. Dá pra fazer a Africa do sul ao norte, da Africa do Sul ao Egito como estamos fazendo por terra, apesar de termos pulado alguns trechos indo de avião. Leva tempo, é um perrengue absurdo (transporte público é muito deficitário em vários paises, senão todos!) mas da. O Overlanding foi uma saída pra nossa falta de tempo e vontade de conhecer os gorilas. Optamos pela Africa Travel Co, pois era a única que ainda tinha os permits pra ver os primatas. MAs olha, tem várias: Nomad, Intrepid, Baobab, Tucan, etc... Veja a que mais se adequa as suas vontades/necessidades. A experiência é bem legal: acampamento, cozinha comunitária, campings com e sem estrutura com um monte de penduricalhos de passeios extras, o que pode encarecer a viagem. Depende muito do grupo que vc cair e dos funcionários da excursão. No primeiro tour, p. ex., tivemos um cozinheiro excelente. Já no segundo a Gabi quase voou no pescoço dele pelas gororobas que ele fazia... Enfim, é questão de sorte. No fim acho que pra gente valeu a pena. Continue acompanhando e qq coisa é só perguntar! Feliz Natal!
Pura Magia
Magnifíca as fotos! Adorei o momento da trama virgem que o pescador lança com uma amplitude surpreendente e a paciência do "fotógrafo" em aguardar o momento certo.
A floresta do Bambi está como uma tela de camurça com inúmeros tons de verde e suspense de qualquer ação que possa modificar o momento. Lindo!
A paz e alegria do casal, Gabi e Ivan, transmite que o sonho, realmente, está a cada dia se concretizando.
Imagino a sensação deliciosa do vento, dos cheiros e das visões durante esse passeio de bicicleta.
Racuna matata para vocês!
saudades sempre
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