Ainda baseados em Haifa, pegamos um domingo e fomos visitar Nazaré,
a maior cidade do distrito Norte de Israel e também onde Jesus haveria passado
boa parte de sua infância. De maioria árabe, fomos visita-la num domingo quando
as enormes excursões católicas dão trégua para que você consiga explorar os
lugares com mais sossego.
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Basílica da Anunciação. |
Algo muito curioso que se repetiu em todos os lugares históricos e
portanto, pontos de peregrinação, há sempre uma disputa entre a Igreja Católica
e a Igreja Cristã Ortodoxa para determinar o local exato onde teriam acontecido
os acontecimentos bíblicos. Ou seja: tem duas igrejas da natividade, duas
igrejas da anunciação, e cada um fica reivindicando para si a verdadeira
localização dos fatos. Como diria nosso guia em Jerusalém, para se garantir,
reze sempre nos dois.
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Parte da nave da Basílica da Anunciação. |
Começamos pela Basílica da Anunciação (católica), o lugar mais
famoso da cidade. É lá que acredita-se estar as ruínas da casa de Maria e
também onde ela teria recebido a visita do anjo Gabriel anunciando que ela
carregaria o filho de Deus em seu ventre.
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Capela abaixo da nave da Basílica. |
Do lado de fora da igreja, há mosaicos doados por todos os países do
mundo retratando a Virgem Maria – o que dá uma cara de “comunidade
internacional” para o lugar.
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Mosaico doado pelo Brasil tem lugar de destaque na nave da igreja. |
Dentro, a arquitetura do edifício é lindíssima e
quase modernista de tão simples: colunas de concreto cru decoradas com pequenos
orifícios sustentam dois pisos interligados por um vazado em forma de estrela.
No andar inferior é possível encontrar as ruínas de uma antiga casa e também
resquícios de uma igreja Bizantina. Tocante foi ver algumas pessoas,
discretamente, fazendo a genuflexão e depositando um bilhete, uma carta, uma
foto naquela que seria a residência da Virgem Maria. Diálogo silencioso,
profundo e íntimo.
Depois disso tentamos visitar a Igreja de São José, que fica logo ao
lado da Basílica da Anunciação e teria sido a oficina de carpintaria de José –
mas estava fechada. Partimos então para a Igreja de São Gabriel da Anunciação,
onde os Gregos Ortodoxos reclamam o verdadeiro local da anunciação de Maria.
Assim que entramos num pátio e começamos a tirar fotos, um padre mau humorado
veio correndo nos avisar que a Igreja estava fechando – era horário de almoço,
que voltássemos amanhã. Enfim, parece que a fé também tira folga no domingo...
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Fachada simples da igreja da anunciação grego-ortodoxa. |
Nazaré é uma cidade pequena e bem convidativa para uma caminhada por
suas ruazinhas estreitas e medievais. Recentemente ela tem sido muito elogiada
por uma cena gastronômica bem desenvolvida e que pretende mostrar o que a fusion food daquela região tem de
melhor.
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Gabi e Celina comem suas maçãs nas ruelas medievais de Nazareth. |
Infelizmente não tivemos a oportunidade de comer por lá uma vez que
quando visitamos tudo estava fechado. A exceção foi uma loja de doces árabes, onde
o vendedor não tirava os olhos do jogo do Real Madrid. Fizemos a festa no
maravilhoso mundo do açúcar – religião em que o Ivan é devoto fiel!
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A foto das frutas porque não deu tempo nem de fotografar os doces, comi antes... |
Ainda usando Haifa como nosso “centro de operações”, pegamos um sherut para fazer uma visita até Rosh Hanikra.
Antes disso, importante esclarecer: o sherut é a versão israelense e muito
melhorada das nossas velhas conhecidas minitaxi/chapa/dallah-dallah
– ou seja, as lotações. Só que aqui, claro, a coisa é incomparavelmente mais
organizada e confortável, onde um mini-ônibus grande leva no máximo 10 a 13
pessoas.
Rosh Hanikra é conhecida por suas grutas que recebem o continuo
vai-e-vem do mar e suas ondas que insistem em tentar escalar as paredes de
pedra. Depois de uma descida de dois minutos pelo bondinho, é possível chegar
ao túnel artificial e andar tranquilamente pelos pouco mais de mil metros que
exploram as formações rochosas e dão vista para o Mediterrâneo. O movimento do
oceano cria um rico jogo de luz e sombra nas partes onde o mar avança pelas
grutas.
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Interior da gruta. Não dá vontade de nadar? |
No final da trilha, chega-se a fronteira com o Líbano. A cerca alta
de arame farpado, os equipamentos militares, o forte monitoramento por radares
denunciam uma relação extremamente desconfiada e tensa, para dizer o mínimo. E
pra gente foi bastante esquisito pensar que logo ali, a poucos metros, era
outro país e que, por meio de uma cerca e vários avisos, era absolutamente
proibido ultrapassar a fronteira. Uma sensação estranha do que representa uma restrição da liberdade de ir e vir.
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O mal encarado aí vive nas pedras da praia. Tem de monte. |
Ainda ali é possível conhecer o túnel escavado em 1943 para ampliar
a linha férrea Cairo-Haifa até Beirute. Em uma pequena parte adaptada é
possível assistir um filme que conta a lenda do local onde uma jovem apaixonada
teria sido forçada a se casar com outro homem e acabou se jogando no mar. É por
isso que até hoje seria possível ouvir seu canto vindo de dentro das grutas de
Rosh Hanikra. Nada como uma boa história de amor para dar mais dramaticidade ao
lugar, não?
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O Mediterrâneo mostra sua beleza. |
3 comentários:
Eu adorei o sherut.
Rapido, objetivo e parceiro do tempo.
Sem fricote mas extremamente pratico.
Vocês lembram dos valores que pagaram para entrar nas grutas?
Desculpa Fernanda, mas depois de tanto tempo já não lembro mais...
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