Imaginem o bacanal mais tórrido possível eternizado em pedra. Imaginem também as posições sexuais mais acrobáticas e impossíveis. Agora junte tudo isso em um amontoado de mil-e-uma esculturas decorando as paredes de templos de mais de 40m de altura. Pois bem, isso é Kajuraho - e a cidade é linda!
As tão faladas esculturas dos templos de Khajuraho fazem jus à fama
e vão muito além do fato de serem um dos exemplos mais interessantes da
arquitetura hindu e/ou por serem patrimônio mundial da humanidade já há algum
tempo.
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Parque muito bem cuidado. |
Ali estão, eternizadas em pedra, uma libertinagem sexual que vai
muito além dos nossos sonhos mais ousados de um kama sutra moderno – e acabam provando que, ao contrário do que
muita gente pensa, estamos cada vez ficando mais caretas (ou recalcados).
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Muitas e muitas imagens dos peladões desinibidos... |
Não é preciso fazer nenhuma “caça ao tesouro” para encontrar as
cenas eróticas presentes em várias partes dos templos. Apreciando
despreocupadamente uma representação de um deus ou uma passagem mítica, é bem
provável que você se dê conta de uma (ou várias) mãos bobas aqui e ali, tirando
proveito de uma moçoila mais desatenta.
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Onde está Wally? |
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Esperta é a lagartixa que tira a sua casquinha. |
Os mithuna são casais que
aparecem frequentemente em poses eróticas, acompanhados algumas vezes por
ninfas dançantes em posturas sensuais. Detalhe novamente para as petchugas que
aparecem com força (antigravitacional) na maioria esmagadora das mulheres que,
além disso, são representadas com uma cinturinha de dar inveja seguida de um
quadril evidentemente fértil.
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Um dos templos do complexo principal. |
Passado o primeiro espanto de se deparar com casais em poses mais
explícitas, vale notar a ideia de sensualidade da época. Mulheres se
apresentando com torções de tronco e quadris deslocados lateralmente, outra
aplicando khajal nos olhos, ou ainda
uma musa pintando o próprio pé com henna
fazem de cenas cotidianas uma inspiração à sensualidade.
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Detalhe da escultura da mulher pintando o olho. |
Mas é nas laterais dos templos principais, espalhados bem no meio da
cidade, que estão abrigadas as esculturas que invariavelmente fazem todas as
pessoas, sem exceção, pararem por alguns minutos e entortarem a cabeça de lado,
tentando entender o que está acontecendo.
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O parque onde se encontram os templos é lindíssimo. |
Em termos práticos, as cenas apresentadas são, no mínimo, de um
malabarismo contorcionista que até o Viagra mais poderoso não seria capaz de
sustentar. É um tal de plantar bananeira, colocar uma perna no ombro e uma mão
sabe-se-lá-onde, ficar dependurado entre uma coxa e uma cabeça articulando os
dedos de uma forma ninja, enfim... mais parece um jogo de Twister versão
avançadíssima.
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Alguém arrisca o canguru perneta? |
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O famoso ninguém é de ninguém...
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Nem o cavalo escapou. |
O mais legal é olhar a cara das pessoas tentando entender o que vai
onde e como é que aquela mão (que é de quem mesmo?) foi parar lá. E depois de
entender mais ou menos com quantas pernas se faz uma ménage a quatro, se perguntar: e será que naquela época eles faziam
isso? De onde é que vem tanta criatividade?
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É tanto detalhe que fica difícil até de saber onde olhar. |
E tem de tudo – tu-do. Inclusive algumas práticas que se diriam
super modernas já estão lá (e normalmente bem mais elaboradas) imortalizadas
nas paredes de templos que datam de 950 a 1050 depois da era comum. E a gente
aqui, se achando super prafrentex...
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Mais bacanal! |
Os templos do Grupo Ocidental, que ficam bem no meio da cidade de
Khajuraho são os mais bonitos. O parque, um oásis muito bem cuidado com grama
aparada e vários arbustos floridos, convida para ficar lá dentro mais tempo do
que o necessário, aproveitando a tranquilidade de um sol de final de tarde.
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Gabi admira os detalhes do templo. Safadinha! |
Ao contrário do que alardeia o Lonely Planet, nós tivemos uma
excelente estadia na cidade, com o assédio normal a qualquer lugar tão
turístico quanto este mas sem grandes estresses. Ficamos no Hotel Harmony, um dos
melhores da faixa baratex, com bons quartos e um pátio central que simplesmente
pede para se ler um livro ou se perder num lassi.
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Jardim em frente ao nosso quarto. |
Logo na frente também tivemos uma boa surpresa de um café super
simpático (e amarelo) que trouxe um bom expresso e internet wifi rápida. Ali
conseguimos atualizar o blog e dar notícias para a família, além de quase ver
uma vaca entrar pela porta principal do estabelecimento, sem o menor pudor.
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Vaca também quer café e internet rápida! |
Khajuraho tem boas opções de restaurantes, em especial o
Mediterraneo que nos surpreendeu com massas caseiras e pratos preparados no
forno a lenha, além do Raja’s Cafe, que apesar de ter um dos garçons mais mau
humorados da história, tem um espaço bacana na sombra de uma figueira imensa.
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Gabi medita. |
Depois de tanto tempo observando detalhes dos templos magníficos,
com mulheres seminuas belíssimas e cenas explícitas de sexo como parte de uma
glorificação da vida, é complicado voltar para o momento presente. O contraste
com uma Índia de mulheres cobertas dos pés à cabeça e onde andar de mãos dadas
com o sexo oposto é quase um atentado ao pudor, é um impacto duro. Fica difícil
saber se estamos, de fato, em desenvolvimento ou se, na verdade, é o mundo que
está ficando mais severo. De qualquer maneira, viva Khajurajo, para nos lembrar
de todas as possibilidades (e formas) de amor!
2 comentários:
Haja desejo e criatividade!!!
Curioso a necessidade de imortalizar no templo toda a sensualidade e sexualidade.
Hahaha, realmente este é o legítimo "ninguém é de ninguém"!
Estive na Índia, mas não conseguí ir a Khajuaro... pena, deu vontade pelas belas fotos dos templos!
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