Que me contaram
E agora eu vou contar
Do amor do príncipe Shah-Jehan
Pela princesa Mumtaz Mahal
(Jorge Ben Jor – Taj Mahal)
Era chegada a hora. Um dos grandes momentos da nossa viagem, tinha
chegado. Este, que certamente era esperado com mais ansiedade pela Tia Fá – que
não escondia o sorriso (já normalmente largo) no rosto – se aproximava com o
rufar de tambores que acompanham a realização de um sonho: conhecer o Taj
Mahal.
Assim que chegamos em Agra começamos os preparativos (logísticos e
espirituais) para dar conta de uma das maiores realizações arquitetônicas do
mundo. Primeira resolução do grupo: não olhar com muita atenção para o
horizonte para não estragar a surpresa do dia seguinte (do nosso hotelzinho
xexelento já era possível ver uma das cúpulas do Taj). Segunda estratégia: nos
dividir em times para “atacar” o prédio da melhor maneira possível. Ivan e eu
iríamos acordar de madrugada para comprar os ingressos e tentar pegar o nascer
do sol já lá dentro. Em seguida, Má e Fá viriam nos encontrar do lado de
dentro, para aproveitarmos a íntegra do passeio todas juntas. Ready, set, go!
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Os muros que circundam o mausoléu. |
No dia seguinte, conforme combinado, Ivan levantou por volta das 5h
para comprar os bilhetes e, já com eles na mão, voltou correndo para me acordar
dizendo que já tinha uma horda de pessoas na rua – e a gente achando que só os
dois aqui iriam tirar fotos exclusivas... De fato, quando saímos parecia
estádio em final de campeonato (antes das 6h da manhã!): várias pessoas se
dirigindo com passo apertado para pegar fila, fazer o procedimento de segurança
e ver o primeiro raio de sol iluminar o Taj.
O espaço que antecede a chegada ao monumento parece que conspira para
que seu coração esteja prestes a explodir em lágrimas antes mesmo da primeira
vista do mausoléu. Vencidas as etapas burocráticas (onde alimentos e bebidas
ficam de fora), chega-se a um jardim lindo, enorme e muito bem cuidado. Uma
sensação de paz que reina em cada folhagem. Depois da visita, as sombras das
árvores são o lugar ideal para se recuperar do impacto de tanto encanto. Logo
ali, naquela imensa ante-sala a céu aberto, quem reina é um portal maravilhoso,
construído com a tradicional pedra de areia vermelha e detalhes em mármore
branco.
Ao se aproximar das portas gigantes, elas já entreabertas, você tem
o primeiro vislumbre de como se arquiteta a eternidade da paixão.
O Taj Mahal é a mais pura declaração de amor imortalizada em pedra. Sua
harmonia perfeita remete à precisão do Soneto da Felicidade sendo recitado na íntegra
pelos olhos de um amante. As paredes de mármore branco, monumentais, fazem
ecoar em silêncio uma melodia delicada e profunda – que ali me fizeram lembrar de
Clair de Lune de Claude Debussy. O
Taj faz você (re) encontrar o que há de divino no homem e na sua capacidade de
criação inspirada na beleza da dor.
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Porque também vale a pena olhar pra trás. |
Classificado pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade em 1993 e
considerado uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno, a história do Taj Mahal é
puro romance. O imperador Shah Jahan encomendou a construção deste mausoléu
após a morte de sua esposa favorita, Aryumand Banu Begam, conhecida como “a
jóia do palácio” (Mumtaz Mahal), que
faleceu depois de dar a luz ao 14o filho do casal.
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O impacto da chegada! |
Dizem as lendas que o viúvo ficou tão desolado que seus cabelos ficaram
brancos da noite para o dia. Apenas quatro anos depois de ter terminado a
construção do Taj, o imperador adoeceu gravemente e sofreu um golpe dado por
seus próprios filhos. Estes, por sua vez, exilaram o pai no Forte de Agra, onde
ele passou o resto de seus dias observando pela janela ao longe, a memória
edificada à sua querida. Em 1666 Shah Jahan morreu e foi sepultado no mausoléu
lado a lado com sua esposa, gerando a única ruptura da perfeita simetria do
conjunto do prédio.
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Um dos palácios laterais do complexo que forma o Taj Mahal. |
Erguido entre 1632 e 1653 por mais de 20 mil trabalhadores, o
principal material usado na construção foi o mármore branco, trazido das
pedreiras de Makrana (Rajastão), que ficam a mais de 300km de distância dali.
As paredes são todas finamente decoradas com mosaicos de pedras preciosas
trazidas de todos os cantos do mundo: o jaspe veio do Punjab; cristal e jade
importados da China; turquesas do Tibet; lápis lazuli do Afeganistão; safiras
do Sri Lanka.
As inscrições do Corão criadas pelo calígrafo persa da corte de
Amanat Khan, estão dispostas em várias partes do prédio e são um tipo de
preciosidade a parte. Entre as principais passagens descritas, estão as
seguintes suras: 91 (o sol); 112
(pureza da fé); 93 (luz da manhã); 95 (as figueiras); 84 (a ferida). Afeto em
poesia traduzida pela fé.
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Detalhes impressionantes. |
Na visita, apesar da quantidade de pessoas que se avolumam
barulhentas a todo tempo, é necessário absorver cada detalhe. É preciso dar
tempo para deixar os olhos se acostumarem com tanta simetria, tanta beleza,
tanto sigilo em cada uma das pedras incrustradas. É imprescindível deixar o
corpo se adaptar à maciez do mármore e saber sentir um pouco da ternura milenar
dolorida de quem tentou dimensionar o amor.
A brancura deste gigante de pedra só torna mais improvável a maneira
como ele flutua no ar. Os espelhos d’água, impecavelmente alinhados com todo o
percurso do portal até a entrada do mausoléu, refletem sua fachada com uma
leveza quase irônica para aquilo que guarda a morte. A gratidão ao ser amado
que se foi está concretizada em cada centímetro de uma beleza que chora.
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Detalhes. |
Como disse o poeta britânico Rudyard Kipling: “O Taj Mahal parece a encarnação de todas as coisas puras, de todas as
coisas sagradas e de todas as coisas infelizes. Este é o mistério deste
edifício.” Para presenciar a sua força e beleza, precisa ir e estar lá, de
corpo e alma, se deixando tocar pela sua história e perfeição.
Um comentário:
Vocês nos fizeram reviver o dia que, em março deste ano, lá estivemos num ensolarado dia. Nossa visão e fotos estão no www.viajandoconosco.blogspot.com òtima viagem. Narcísio e Dirlei.
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