
Koh Tao
A Kao San Road pode ser um dos piores lugares para ficar em Bangkok
pelo caos inerente e pela exponencial concentração de turistas. Mas até isso
tem seu lado bom: é de lá que sai boa parte dos ônibus para conhecer as famosas
praias tailandesas.
Momento Ivan e Gabi alienados: Quando começamos a cotar quais eram
as possibilidades para chegar nas ilhas entre as milhares de agências de
turismo que orbitam na região da Kao San Road, vários deles nos ofereceram o
pacote “Full Moon”.
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Uma praia pra chamar de sua. Em Koh Tao. |
Os dois tontos aqui acharam que era um pacote tipo “lua de mel” com
direito a luau na praia, velas e bossa nova para curtir uma romântica lua
cheia. Na verdade, a grande questão ali é a famigerada festa da Full Moon – uma
das maiores raves do mundo, voltada especificamente para a molecada
americana/europeia que se joga em sexo, drogas e... é, basicamente isso.
O fato é que a tal da festa dos ‘nóinhas’ faz que os preços de
passagens e hospedagem tripliquem no dito final de semana da lua cheia. E como
a Full Moon acontece em Koh Pha Ngan, essa já estava terminantemente fora da
nossa lista, sobrando Koh Samui e Koh Tao.
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Casquinha de siri? |
Optamos pela última que é uma ilha pequena, mais reservada e
basicamente voltada para mergulho. Compramos uma passagem combinada de ônibus e
ferry pela Lomprayah, uma das melhores empresas para fazer este trajeto – e
recomendamos, realmente foi tudo bem organizado e confortável.
Saímos da rua de trás da Kao San Road as 5h da madrugada (você tem
que chegar uma meia hora antes pra pegar um bom lugar) e por volta das 14h
desembarcamos da ferry em Koh Tao. No trajeto ficamos um pouco preocupados pela
quantidade de moleques mais-pra-lá-do-que-pra-cá que vinham direto da balada e
se prestavam a jogar futebol (sim, fu-te-bol) dentro da embarcação – mas
felizmente todos eles desembarcaram em Koh Pha Ngan. Aleluia.
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Pequenas praias que como podem ver pela lotação, são quase particulares. |
Ficamos numa pousada chamada Captain Nemo, que tem apenas 6 quartos
despretensiosamente colocados numa casinha amarela simpática. O engraçado foi o
sermão de chegada que a dona tailandesa, casada com um francês, nos deu assim
que sentamos na cadeira. Basicamente ela passou uma hora contando histórias do
arco da velha sobre hóspedes muito doidos que passaram por lá – e de como ela
tinha botado esse povo pra dormir na rua. Vai entender...
A nossa rotina em Koh Tao consegue descrever bem o ambiente da ilha
e para nós foi simplesmente maravilhoso poder relaxar durante uma semana. Logo
de manhã, íamos tomar café da manhã numa barraquinha de frutas que fica perto
da ferry e dali saíamos com um copão de vitamina geladíssima com toda espécie
de frutas tropicais que você pode imaginar. A manga tailandesa, no entanto, é
uma delícia à parte: de tão doce e tenra, parece um mousse.
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Pôr do sol em Koh Tao. |
Dali partíamos para uma caminhada com objetivo de explorar preguiçosamente
as praias. São várias opções, conversar com os locais é sem dúvida a melhor
forma de descobrir quais as joias escondidas da ilha e foi assim que
descobrimos a ‘nossa’ praia. Aow Leuk Bay é, teoricamente, uma praia privada
que fica a três quilômetros de centro, seguindo a estrada asfaltada até um
desvio sentido Jansom Bay.
É uma prainha minúscula, não deve ter mais de 1 quilômetro de areia
grossa (daquelas em que ainda é possível ver os restos de coral) que se estende
por um mar esmeralda, sem ondas, num infinito de tons de azul. E é ali dentro,
a não mais de dez braçadas que uma fauna marinha se revela exuberante, colorida
e rica, do jeito que só ela sabe ser.
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O barquinho vai, a tardinha cai... |
Em suma, o dia ali passa sem pressa. Entre uma e outra cochilada no
sol, dá pra pegar máscara e snorkel e se divertir muito nos corais que beiram a
praia entre ostras gigantes, peixes-papagaio de todas as cores, vários corais
e, com sorte, até uma tartaruga. E para as feministas prafrentex de plantão, o
topless tá liberadíssimo, num grau de tranquilidade e naturalidade que é raro
de encontrar por aí.
Já no entardecer e depois de uma sessão de fotos do Ivan, íamos
caminhando já semi mortos de fome para o nosso “almo-jantar”. Das opções que
experimentamos e naquela região, o melhor sem dúvida é o Pra Nee’s Kitchen, um lugar
gostoso, despretensioso, com preços super acessíveis e uma excelente execução
dos melhores pratos da culinária tailandesa.
Destaque para o camarão empanado com molho de tamarindo, pad thai e
a salada de papaia verde – que só de lembrar dão água na boca. De quebra ainda
dá pra pegar um ‘cineminha’ nas almofadas espalhadas em torno da TV onde todas
as noites eles exibem filmes hollywoodianos com legendas pra lá de engraçadas
(e erradas).
Koh Tao tem vários pontos de mergulho interessantes espalhados pela
ilha – e, naturalmente, também inúmeras operadoras de mergulho. O ponto
negativo é que a molecada endinheirada que vai para a Full Moon Party resolve, na
ressaca, fazer um curso básico de mergulho entre um cogumelo e outro. Para se
ter uma ideia, a maior certificadora de mergulho do mundo fica lá – o Ban’s
Diving Resort.
Apesar de termos gostado de outro dive center (mas que não estava
operando no momento), optamos por mergulhar com eles mesmo e fomos para Chumphon
Pinnacle e Japanese Garden. Os mergulhos foram bons, visibilidade OK e uma vida
marinha bastante rica e diversa com destaque para um enorme cardume de
barracudas de cauda amarela.
Mas ali vimos algumas bizarrices que só são possíveis na Tailândia.
Além de uma operação gigante com mais de 50 mergulhadores no mesmo barco
(apesar deles dizerem que são até 5 mergulhadores por dive-master), tinha gente
fazendo batismo, russos com dois tanques, instrutor perdido no meio do mergulho
e inclusive um casal de orientais fazendo sexo embaixo d’água. Sim, durante o
mergulho. (Para os mais detalhistas: não, eles não estavam usando roupa de
mergulho já que a temperatura d’água é de 29oC – o que facilita
bastante a atividade).
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Koh Tao significa a ilha da tartaruga. Em resumo: um sossego! |
Tivemos uma semana espetacular em Koh Tao e definitivamente não
trocaríamos essa ilha por nenhuma das outras duas. As praias são tranquilas e
charmosas, há opções de hospedagem e alimentação para todos os gostos e o
mergulho é bem bacana. Ali vamos ter para sempre, uma praia para chamar de
nossa – e pra voltar sempre que der vontade!
Koh Phi Phi
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A famosa praia do filme do DiCaprio. |
E aí resolvemos ir conhecer a tal da praia do filme “A Praia”.
Encaramos algumas horas de ônibus, barco e até uma forte possibilidade de chuva
para conhecer o bendito complexo de ilhas mais famoso da história do cinema
recente. Já deu pra sentir o drama, né?
Dormimos na cidade de Krabi porque é o porto de partida mais próximo
para conhecer as ilhas que, apesar de terem opções de hospedagem próprias, são
todas caríssimas. Esta cidade, por sua vez, nos acolheu em uma pousada de uma
família tailandesa encantadora de frente para o mercado noturno – uma
experiência gastronômica das mais variadas que tivemos por aqui.
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Enfeites em barco tradicional tailandes. |
No dia seguinte pegamos um tour com a operadora Barracuda que nos
levaria para as ilhas mais famosas do arquipélago de Koh Phi Phi. Foi trágico. Do
começo ao fim. Não há uma única coisa que podemos dizer de bom a respeito dessa
maldita empresa e apenas um conselho: nunca vá com eles.
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O azul e o verde. |
Basicamente o esquema funciona assim: eles te colocam em uma lancha
lotadíssima com pelo menos mais trinta turistas de todas as nacionalidades. Um
“guia” energúmeno vai numa ponta da lancha balbuciando um monte de informações
truncadas num inglês ininteligível – e quando você vai perguntar alguma coisa
porque não conseguiu ouvir nada a resposta dele é que ele não vai repetir
porque você não estava prestando atenção.
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Turistada no farofão de Koh Phi Phi! |
Dali a pouco eles despejam essa turistada numa ilha gritando que
todos têm que estar de volta em exatamente quarenta minutos – e quem não estiver
lá no exato instante vai ficar pra trás. Pra melhorar, distribuem garrafinhas
plásticas d’água que são imediatamente descartadas NA PRAIA pelos turistas ou,
na melhor das hipóteses, deixam os rótulos vagabundos flutuando no mar.
Cinco minutos antes do horário eles amontoam todo mundo de volta e
partem para outro ponto onde jogam as pessoas no mar pra fazer snorkelling –
sem o menor direcionamento, segurança ou explicação. Finalmente eles seguem
para o grand finale, a tal da praia onde foi filmado o filme “A Praia”.
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Foi difícil achar uma paisagem sem um monte de gente "atrapalhando" a foto. Mas olha esse mar... |
É uma cena triste. Uma paisagem absolutamente paradisíaca onde uma
pequena praia, cercada de coqueiros é protegida por pedras gigantes de calcário
que criam uma baía de água esmeralda. E lixo por toda a parte. Sacolas
plásticas, embalagem de protetor solar, saquinho de salgadinho, garrafas
(plásticas e de vidro), bitucas de cigarro a rodo. Não dá pra aproveitar o
cenário sem ficar imediatamente revoltado com a situação.
E são dezenas de operadoras, barcos, longtails (os barcos
tailandeses tradicionais), iates e qualquer coisa com um motor que fazem esse
mesmo trajeto todos os dias. São muitas, mas muitas pessoas mesmo, em todas
essas praias, tirando foto, enchendo a cara e fazendo pose para postar no
Facebook que estiveram na famosíssima Phi Phi Don.
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Pequeno lembrete do que aconteceu a pouco tempo por aqui. |
É inegável que a beleza das praias desse arquipélago é espetacular,
de tirar o fôlego, algo difícil de encontrar em outra parte do mundo. No
entanto a experiência que tivemos foi tenebrosa e conseguiu tirar boa parte do
encanto daquele cenário magnífico.
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Phi Phi Don. Foi nessa baia que, no filme, o sueco perdeu a perna. |
É realmente triste ver como o tipo de turismo nessa região é
completamente predatório e sem nenhuma preocupação em preservar algo que hoje
já está a meio caminho de um desastre ambiental. É duro dizer isso mas parece
que daqui a alguns (poucos) anos, Koh Phi Phi vai ser uma memória distante e,
na melhor das hipóteses, um cenário de filme do Leonardo Di Caprio.
Um comentário:
Sensacional, adorei o blog, encantada com vocês e até me emocionei com os textos "percepções".
Abraço!
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