Eu
me lembro da primeira vez que tomei conhecimento de Angkor Wat.
Estava explorando a antiga coleção de National Geographic's do meu pai, quando
me deparei com a capa de Maio de 1982 que trazia o rosto de uma estátua gigante
tomada por folhas e raízes.
A reportagem falava sobre um conjunto de templos
perdidos no meio da selva e "re-descobertos" (depois do fechamento
pelo Khmer Rouge), cheio de mistérios a serem desvendados. Aquilo pra mim era a
exata descrição de um parque de diversões no melhor estilo Indiana Jones - e
passados sei-lá-quantos-anos vocês podem imaginar meu estado de excitação ao
conhecer este lugar. O Ivan então, que sempre quis ser o próprio Indiana, nem dormir conseguiu.
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Uma das entradas laterais de Angkor Wat. |
Siem
Reap é o ponto de partida para conhecer as famosas ruínas e, como toda cidade
que sofre do mal de ser base para um super-ultra-mega ponto turístico, suas
funções giram quase que exclusivamente entorno do turismo voltado para
estrangeiros. Nesse ponto, lojinhas de souvenirs e bugigangas são abundantes,
vendedores que ficam tentando te empurrar cartões postais também, mas as opções
de hospedagem e alimentação são largas.
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Dançarinos fantasiados de personagens folclóricos do Camboja no templo de Angkor. |
Em
mais um dos nossos rompantes de promoções da Agoda, pegamos uma pousada bem
bonitinha que prometia quartos amplos, piscina (!!) e café da manhã a preços
acessíveis.
Assim que chegamos fomos descobrir que a pegadinha estava na
localização, a pelo menos 20 minutos de tuktuk do centro, completamente isolada
da cidade.
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O Templo de Bayon, um dos favoritos do Ivan. |
Mas
no balanço final o Dyna Boutique Hotel valeu a pena, com quartos super
confortáveis, daqueles que dão vontade de ficar espreguiçando na cama. A área
do restaurante e da piscina são muito gostosas, com várias plantas e flores em
volta, criando um clima de cachoeira no meio da floresta.
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Apsaras, ou as ninfas de Angkor Wat. |
Em uma tarde onde
todos estavam completamente moídos depois de passar o dia todo explorando as
ruínas, aproveitamos bastante o sol e a piscina - mesmo debaixo de uma chuva
torrencial de monção.
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Cá e Má (ou pai e mãe) também se divertiram no maior templo do mundo. |
O
hotel oferecia transporte gratuito de ida para o centro da cidade o que nos
permitiu conhecer um pouco mais de Siem Reap. Na rua principal, vários bares e
restaurantes prometem uma noite animada, oferecendo pratos tradicionais da
culinária local (super recomendados!) e também opções mais internacionais. Uma cerveja (criativamente batizada) Angkor gelada é garantida em qualquer um deles e para finalizar a noite vale a
pena tomar um sorvete na Blue Pumpkin, uma padaria mais moderninha de lá.
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Stupa dentro de um dos templos do complexo de Angkor, conhecida como "a vela" |
O
Mercado Noturno não tem muitas novidades se comparado com os vários mercados
asiáticos que já falamos aqui no blog. Basicamente é um pouco mais do mesmo
só que agora com o símbolo de Angkor Wat bordados ou estampados nos mesmos
souvenires.
O que sem dúvida vale a pena é parar em uma das várias barraquinhas
de massagem que ficam no meio da rua "pescando" os turistas para
fazer pelo menos uns 15 minutos - por U$ 5 dá pra ficar uma hora inteirinha. A
sensação de alívio depois de vários dias batendo perna pelos templos
intermináveis é divina! Mas vamos ao que interessa:
PARQUE
ARQUEOLÓGICO DE ANGKOR
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A entrada para Angkor Wat. |
O
Parque Arqueológico de Angkor é um dos sítios arqueológicos mais importantes do
Sudeste Asiático. O parque se estende por mais de 400 quilômetros quadrados - o
que equivale a quatro vezes o tamanho da cidade de Paris. As ruínas de
diferentes capitais do Império Khmer datam do século IX ao XV, sendo os templos
mais famosos o de Angkor Wat e o de Bayon, em Angkor Thom, além de Preah Khan e
Ta Prohm.
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Estátua de Vishnu recepciona os visitantes. |
Monumentos
espalhados por todo o parque são testemunho de uma civilização excepcional, com
uma complexa estrutura social e simbólica, onde cada construção é imbuída de um
profundo significado. Desta maneira, Angkor é um lugar que congrega valores
culturais, simbólicos e religiosos inestimáveis para a humanidade, calcados em
inúmeras representações arquitetônicas, arqueológicas e artísticas.
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Um dos corredores do templo. Não, não é um espelho, é a profundidade do corredor. (aumente a foto para ver melhor) |
Em
1992 o lugar foi reconhecido como Patrimônio Mundial da UNESCO, o que permitiu que
fundos fossem direcionados para sua conservação, além de aumentar a
responsabilidade do governo cambojano em investir recursos na sua manutenção. A
riqueza de sua história, o valor arquitetônico, a complexidade multifatorial
das relações sociais que estes monumentos representam são inimagináveis.
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Em todo corredor mostrado na foto acima há um alto-relevo esculpido em pedra contando a história de uma das guerras do Mahabarata. |
Por
sua vez, Angkor Wat é "só" o maior maior monumento religioso do
mundo. Não é a toa que seu nome significa "Cidade dos Templos": na
verdade, trata-se de um complexo imenso de construções que reúnem-se em torno
daquilo que poderia ter sido considerada uma metrópole à época.
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Piscina em pátio interno de Angkor Wat. |
Sua
construção teve início no começo do século XII sob o comando do Rei Khmer
Suryavarmman II que fez de lá a capital do império. Rompendo com a tradição dos
reis que o precederam, Angkor Wat foi dedicada a Vishnu e não à Shiva. Hoje é o templo melhor
preservado em homenagem a esse deus apesar de ter sido modificado algumas vezes para se transformar em um recinto budista.
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Dois edifícios marcam a entrada do templo em Angkor. São duas bibliotecas que guardavam o controle econômico e financeiro do templo, além da história do lugar. |
O
Templo de Bayon marca o centro da capital de Jayavarman, Angkor Thom, e é um
espetáculo sem igual.
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Os famosos rostos de Bayon. |
Sua característica mais marcante desponta ao longe: 216
faces gigantes, com olhar sereno e altivo estão dispostas cobrindo a fachada da
parte mais alta do templo. A sensação de ser observado por aqueles olhos
colossais de pedra, que vêm o mundo desde os tempos imemoriais é indescritível,
uma mistura de insignificância e compreensão.
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A entrada do templo de Bayon. |
Mesmo
estando em Angkor, presencialmente, é difícil absorver tanta informação e
beleza concentradas em ruínas que se multiplicam exponencialmente por vastos
campos.
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Em alguns templos a natureza tomou conta do lugar. |
Em 1586 um monge português que visitou o local (sendo um dos primeiros
ocidentais a fazê-lo) relatou em suas cartas que o que viu era "uma
construção tão extraordinária que não é possível descrevê-la com uma pena,
principalmente porque não se parece com qualquer outro edifício no mundo."
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Bayon e suas muitas faces. |
Em
meados do século XIX, o explorador francês Henri Mouhot publicou suas anotações
de viagem na qual ele fala sobre sua visita a Angkor: "Um desses templos -
um rival para aquele de Salomão, e erguido por algum Michelangelo antigo -
poderia ter um lugar de honra ao lado dos nossos edifícios mais bonitos. É mais
grandioso do que qualquer coisa que nos foi deixada pela Grécia ou Roma".
Talvez
tão belo quanto a própria arquitetura do lugar é a maneira como ele está
integrado com a natureza, num espetáculo em que fica difícil diferenciar o que
é do homem e o que é da terra. Árvores imensas cresceram em cima dos templos,
protegendo-os com suas copas frondosas enquanto suas raízes dão um abraço
mortal nas paredes que cedem aos poucos. Depois de milhares de anos de história
a lição ali exposta é que nada nem ninguém (nem o mais poderoso dos impérios)
resiste ao tempo - e que tudo, em algum momento, volta ao pó.
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Depois da chuva sempre vem o sol. |
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Mas a foto não está ao contrário? Depende de quem vê. |
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