Da vila de Manang, a trilha cruza com alguns riachos, subimos até a
vila de Tenki, que fica logo acima de Manang, e depois continua para cima
saindo do Vale de Marshyangdi sentido nordeste até o vale de Jarsang Khola. A
trilha segue este vale sentido norte, passando por algumas pastagens, árvores
juniper, ganhado altitude constantemente. O caminho passa perto da pequena vila
de Ghunsa, um conjunto de casas com tetos retos feitos de lama que fica logo
abaixo do caminho da trilha. Agora a trilha passa por pradarias onde cavalos e
yaks pastam. Depois de cruzar um riacho por uma ponte de madeira, a trilha
passa por uma antiga parede Mani, numa agradável planície e depois chega até a
pequena vila de Yak Kharka. Fazer uma subida pequena mas gradual é a chave para
evitar problemas de altitude.
"A lua de mel acabou. Estamos caminhando a 9 dias agora e até então
as trilhas, apesar de difíceis, eram bem assentadas e contamos com lindos dias
de primavera. Não mais.
Acordamos em Manang com o cinza do céu cobrindo as montanhas e a noite
fora a mais fria que enfrentamos até hoje.
Dormimos dentro de nossos sacos de
dormir mais os edredões nepaleses que mais parecem colchonetes de tão grossos.
Isso sem contar as segundas peles travestidas de pijamas.
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Saída de Manang. |
Após a palestra da Himalayan Rescue Association, resolvi começar a
tomar o Diamox, remédio preventivo à doença de altitude. Seja pelo efeito do
remédio ou porque já estou aclimatado, confesso que me sinto melhor.
O caminho que nos elevou 500m e nos trouxe até Yak Kharka me pareceu
mais tranquilo do que imaginava. Algumas pontes suspensas, casas esparsas pelo trajeto e frio, muito frio.
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Vista da saída de Manang rumo à Yak Kharka. |
O vento entra rasgando nos vãos descuidados das muitas camadas que
vestimos e gela o suor por baixo da roupa. As trilhas em si começam a ficar
mais estreitas e arenosas, fazendo as cem mil pedrinhas do chão se transformarem em
bolas de gude sob os nossos pés.
Gabi segue uma guerreira descomunal, caminhando sem trégua apesar de
sofrer mais do que eu com o frio. De vez em quando ouço uns gritos vindos de
trás me dando bronca por andar muito rápido.
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"você tem que beber água!" eu sei Gabi, eu sei... |
Fizemos a travessia em tempo bom: 3h para os 10km de subidas e
descidas ofegantes.
Yak Kharka se resume a não mais que 10 casas de pedra que servem
como pouso para viajantes rumo à Thorong La. Estamos mais uma vez hospedados em
uma teahouse xexelenta, mas que serve ao propósito de alimentar, dormir e
seguir caminho.

A impressão que tenho é que ao passo que nos aproximamos da
travessia a montanha ruge e começa a mostrar os dentes. No início, foram as
trilhas inclinadas que custaram meu joelho e o tornozelo da Gabi. Em Manang, a altitude
apareceu deixando 100m de trilha tão difíceis quanto se fossem 1.000m. Hoje, em
Yak Kharka, o frio.
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Carregadores pela única rua de Yak Kharka. |
No meio da tarde Guiam nos chamou para uma subida de 300m para mais
uma aclimatação. Já no meio do caminho, morro acima, flocos de neve pontilhavam
meu casaco preto.
A caminhada curta nos levou a um pasto de yaks, onde uma nak (yak
fêmea) cuidava dos seus dois bezerros recém nascidos. Não preciso dizer que o
lado “te-agarro-te-espremo” da Gabi quebrou recordes.
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"mas amoooor, é um yakinho!" Fala da Gabi antes de quase espremer o bicho. |
Paro de escrever no salão da teahouse onde a esmagadora maioria é
francesa e conversa animadamente. Os guias e sherpas nepaleses jogam baralho.
O frio dificulta a escrita. Além das mãos duras já parei duas vezes
para esquentar a carga da caneta, que falha..."
2 comentários:
Filha
Que frio! Seu nariz estava vermelho.
Mas nunca há problemas porque o inquieto e sábio guerreiro Ivan irá te proteger.
Filha
Que frio! Seu nariz gambiniano estava vermelhinho.
Não há problemas porque sempre o inquieto e guerreiro Ivan irá te proteger.
Será que eu aguentaria esse ar rarefeito?
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